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Nova greve pode adiar 10 mil diligências – Expresso – 15abr2023

Sindicato dos Funcionários Judiciais convocou mais uma greve nacional que vai decorrer entre 26 de abril e 5 de maio. Mas ao contrário das duas ações anteriores, que têm vindo a perturbar a vida dos tribunais desde o início do ano, esta paralisação vai decorrer nos moldes tradicionais. Isto é, os funcionários que aderirem à greve vão mesmo faltar ao trabalho, o que implicará que os tribunais onde a adesão seja maior funcionem em regime de serviço mínimo.
“É como se fosse feriado ou fim de semana todos os dias”, explica António Marçal, presidente do sindicato que está em guerra aberta com a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro. Isto quer dizer que todos os julgamentos, mesmo os que impliquem presos preventivos, terão de ser adiados nos tribunais onde os funcionários aderirem à greve. “As únicas exceções são o primeiro interrogatório de arguidos presos, casos de menores em risco ou de processos relacionados com saúde mental”, explica o dirigente sindical.
Nas greves anteriores, que se prolongaram por dois meses, os funcionários compareciam ao local de trabalho, mas recusavam-se a praticar determinados atos como inquirições de testemunhas, julgamentos sem
presos preventivos ou emissão de certificados de registo criminal. Este protesto original levou ao adiamento de pelo menos 21 mil diligências até ao final de março. Pelas contas do sindicato, a nova greve que durará sete dias úteis, se tiver um nível de adesão semelhante às anteriores (cerca de 80%), “levará ao adiamento de 10 mil diligências, Oficiais de justiça já paralisaram os tribunais durante dois meses e garantem que não vão parar os protestos incluindo julgamentos com arguidos presos, o que não aconteceu nos protestos anteriores”.
Esta terça-feira foi publicado em  “Diário de República” o parecer da  Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre as duas primeiras paralisações. Para este órgão, a primeira greve foi “irregular” e os trabalhadores
que aderiram podem ser sujeitos a “sanções” e ao pagamento de “indemnizações” ao Estado. Mas não foi isto que levou o sindicato a abandonar, para já, os protestos “fora da caixa”. “Esta greve em moldes tradicionais já estava pensada antes do parecer. Fomos acusados de conseguirmos o melhor de dois mundos. Estar em greve e continuar a receber o salário por inteiro. E o que queremos mostrar é que uma greve tradicional é muito mais prejudicial para os utentes da justiça porque leva ao adiamento de mais diligências”, esclarece António Marçal que não descarta novas formas de luta. “O fosso entre nós e a ministra é cada vez maior e não estou a ver como é que vamos conseguir chegar a um acordo.”

Um fosso intransponível
De acordo com uma fonte judicial, apesar de o parecer sugerir “sanções” e “indemnizações”, pelo menos para já não foi levantado qualquer processo disciplinar a oficiais de justiça grevistas. “Essa decisão só pode ser tomada pelo Conselho dos Oficiais de Justiça”, diz a mesma fonte. Este órgão de disciplina dos funcionários judiciais é presidido pela juíza Isabel Namora, presidente da Direção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ), a entidade patronal dos funcionários judiciais e a primeira a pedir o parecer da PGR por discordar da forma de protesto escolhida pelos funcionários.
Mas afinal qual é a causa do conflito entre a ministra e os oficiais de justiça? O sindicato pretende que o Ministério  desbloqueie imediatamente as promoções que já foram aprovadas e que autorize o pagamento de um suplemento de 10% em 14 prestações. O Expresso contactou o Ministério da Justiça que “reconhece” como “justa” a exigência de um “novo estatuto para a carreira” e compromete-se “a dar-lhe resposta em 2023”. Ou seja, só irá atender às reivindicações do sindicato depois da aprovação de um novo estatuto.
“Esse novo estatuto está para ser aprovado desde o tempo de António Costa ministro da Justiça”, contrapõe António Marçal que não aceita que as reivindicações “mais do que justas” tenham de ficar à espera. “As negociações estão num impasse.”
O Governo diz que o “secretário de Estado-adjunto e da Justiça tem mantido várias reuniões com as associações sindicais que representam estes funcionários da Justiça” e garante que “já agendou novas reuniões para o dia 27 de abril” (um dia depois do início da nova greve) para “alcançar um desejável acordo”. “Nós não podemos abdicar destas duas reivindicações. E ainda nem estamos a falar das horas extra que os funcionários são obrigados a fazer sem receber um cêntimo”, avisa Marçal.

in Expresso – 14abr2023

“Mais de 22 mil diligências ia foram adiadas” – DISCURSO DIRETO – ANTÓNIO MARÇAL – CMjornal – 13abr2023

“Mais de 22 mil diligências ia foram adiadas”

Em que moldes se realizará a nova greve? De 26 de abril a 5 de maio vamos fazer uma ‘greve tradicional’, ou seja. uma greve com ausência do local de trabalho. Só serão garantidos serviços mínimos em alguns dias e são os serviços que estão tipificados na lei.

Quantos julgamentos já foram adiados devido às greve? Mais de 22 mil diligências, e este número vai aumentar ainda mais. Na greve que está em curso garantíamos a realização de muito serviço e diligências. Mas, na próxima greve, não estaremos no local de trabalho e o impacto será muito maior.

O que reivindicam os funcionários judiciais? O que está prometido há mais de 20 anos é a revalorização da carreira e, até agora, nada. Há duas questões para resolver no imediato que são a integração do suplemento, que está prometido desde 1999, e a realização das promoções.

As formas de luta vão continuar até quando? Vamos apresentar novas formas de luta até 15 de julho. Isto acaba na hora em que a ministra da Justiça deixar de ser teimosa e quiser começar a trabalhar para resolver os problemas.

DISCURSO DIRETO ANTÓNIO MARÇAL – Pres. do Sindicado dos Funcionários Judiciais sobre nova greve de dez dias

in Correio da Manhã – 13abr2023

Greve na justiça adiou mais de 21 mil diligências. E a próxima vai ser pior

Justiça

O Sindicato dos Funcionários Judiciais entregou um novo pré-aviso de greve entre 26 de abril e 5 de maio e confirmou à CNN Portugal que desta vez os funcionários não vão estar no local de trabalho. Ou seja, desta vez, os adiamentos de audiências podem ser quase totais

Começaram a 15 de fevereiro e não sabem quando irão parar. O Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ) entregou um novo pré-aviso de greve entre 26 de abril e 5 de maio e, desta vez, será diferente. “Até agora a paralisação era apenas para alguns atos” e os funcionários estavam no local de trabalho, explicou à CNN Portugal António Marçal do SFJ. Na próxima paralisação, “os funcionários não vão estar no local de trabalho”. Assume que foram adiadas mais de 21 mil diligências, mas defende que foram praticados cerca de “15 milhões de atos judiciais”.

Os números finais não são conhecidos, porque oficialmente a greve “parcial” ainda está em vigor e só termina dia 16 de abril. Mas é quase certo que nova paragem de 10 dias vai agravar, e muito, os adiamentos das diligências. “Só vão ser garantidos os serviços que a lei define como urgentes e que são os que são praticados, por exemplo, aos sábados”, esclarece António Marçal.

Apesar das mais de 21 mil diligências adiadas, “muitos milhares realizaram-se”. “Era o juiz que determinava se o processo era urgente. Sempre abrimos essa possibilidade, porque sabíamos os prejuízos que a paralisação causava”, explica a mesma fonte, que garante mesmo que “todas as audiências na área de menores foram realizadas”.

Segundo as contas do sindicato, “faltam 1200 funcionários judiciais” nos tribunais. E se, por um lado, milhares de diligências foram adiadas, “milhões de atos” foram praticados. Na verdade, ao não estarem “ocupados em audiências”, os funcionários judiciais “conseguiram recuperar trabalho que estava parado e atrasado”. “Houve 15 milhões de atos praticados entre diligências, notificações, arrestos, informações, etc”, acrescenta António Marçal.

“As pessoas não imaginam o conjunto de trabalho que fazemos até se chegar a um julgamento. Não é trabalho visível, mas tem de ser feito. Ninguém imagina, por exemplo, o trabalho que dá uma insolvência até ficar tudo decidido”, conclui. E sem funcionários suficientes é impossível garantir que seja realizado de forma célere, “como a justiça deve ser”.


O apelo dos advogados (e a resposta)

Desde o início do protesto, a 15 de fevereiro, e perante o adiamento de milhares de julgamentos e diligências, o Conselho Regional de Lisboa (CRL) da Ordem dos Advogados deixou um apelou ao Sindicato dos Oficiais de Justiça (SOJ) para encontrar forma de evitar que a greve provocasse “prejuízos desnecessários” aos cidadãos e advogados que têm processos em andamento.

Apesar de reconhecer os motivos da greve, o CRL acreditava que era possível fazer alguma previsão de quando haveria, ou não, condições para as diligências se realizarem e, por isso, apelava: “Sem desconsiderar em momento algum o direito à greve destes funcionários e considerando inclusive que esta é uma forma de lutar para que sejam reunidas todas as condições, principalmente de recursos humanos, para a imprescindível prossecução da Justiça, o CRL pretende sensibilizar aquela entidade sindical para o impacto das medidas adotadas, nos cidadãos e nos advogados que os representam“.

Perante este apelo, António Marçal lembra que “um funcionário judicial não pode adiar uma diligência”. “Quem pode adiar uma audiência ou uma diligência é um juiz ou um procurador”, explica. Mesmo entendendo o apelo, e até, os danos causados, reforça que “essa é uma prerrogativa do juiz”. Só depois dessa decisão, um funcionário poderá notificar quem de direito.

O representante sindical esclarece ainda que “um funcionário que faça algo assim”, sem ser um juiz ou um procurador, pode enfrentar “um processo disciplinar e fica sujeito a sanções que podem ser muito graves”.


Ministra da Justiça reconheceu que impacto “é inegável”

Há alguns pontos que o Sindicato dos Funcionários Judiciais não abre mão para suspender o protesto. E este novo pré-aviso de greve pode não ser o último. Entre eles está “a falta de funcionários”, “o congelamento das promoções” e o pagamento do suplemento salarial a que têm direito 14 vezes por ano, em vez das atuais 11.

Em março, a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, reconheceu que “é inegável” o impacto da greve dos oficiais de justiça. “O senhor secretário de Estado está a rever o estatuto, já fizemos entrar mais pessoas, a outra reivindicação é uma questão de aposentação que nem os juizes têm esse nível de aposentação. Eu esperava de facto que, com aquela primeira conversa, pudéssemos ter tido a desconvocação desta greve. Acho que os oficiais de justiça que optaram por esta greve deviam pensar e refletir nas consequências que esta greve está a ter na área da Justiça”, afirmou.

Em seguida diferenciou sindicatos: “Temos dois sindicatos diferentes: o SOJ, que está a fazer uma greve clássica, e depois uma diferente forma de luta do SFJ, que, essa sim, tem, de facto, causado esta perturbação na justiça”.

Todavia, desta vez, o SFJ regressa ao protesto “clássico” e apenas vão ser garantidos os serviços previstos na lei como urgentes e que estão explicados no próprio pré-aviso do protesto:

“Mais se comunica que, atendendo ao carácter das funções, que visam a satisfação de necessidades sociais impreteríveis, e atendendo ao disposto nos artigos 397.º e 398º da LGT, serão assegurados os serviços mínimos, nos Juízos e serviços do Ministério Público materialmente competentes, e só nestes, e apenas nos dias 26 e 28 de abril e 3 e 5 de maio de 2023 para:

a) Apresentação de detidos e arguidos presos à autoridade judiciária e realização dos atos imediatamente subsequentes;

b) Realização de atos processuais estritamente indispensáveis à garantia da liberdade das pessoas e os que se destinem a tutelar direitos, liberdades e garantias que de outro modo não possam ser exercidos em tempo útil;

c) Adoção das providências cuja demora possa causar prejuízo aos interesses dos menores, nomeadamente as respeitantes à sua apresentação em juízo e ao destino daqueles que se encontrem em perigo;

d) Providências urgentes ao abrigo da Lei de Saúde Mental.”

13 de abril de 2023 – DRE

  • Portaria n.º 103-A/2023 – Adota o Regulamento Específico da Área Temática Inovação e Transição Digital, no âmbito dos Sistemas de Incentivos do Portugal 2030
  • Portaria n.º 104/2023 – Regulamento do Concurso Nacional de Acesso e Ingresso no Ensino Superior Público para a Matrícula e Inscrição no Ano Letivo de 2023-2024
  • Despacho n.º 4478/2023 – Aprova o Regulamento do Procedimento de Inspeção da Inspeção-Geral dos Serviços de Justiça

Trabalho invisível – Correio da Justiça – CMJornal – 12abr2023

Trabalho invisível

Todo um trabalho fundamental ao bom andamento da justiça

São a primeira face da Justiça e, por vezes, a única perante o cidadão que a ela se dirige. Mas são muito mais do que isso, contribuindo para que todo o sistema de justiça se desenrole de forma contínua e eficaz. São eles, os Oficiais de Justiça, que, no cumprimento dos despachos exarados pelas diversas magistraturas e, em alguns casos, oficiosamente, fazem as diversas ligações entre serviços dentro do Ministério da Justiça e outros até internacionais.

As citações, as notificações, pedidos de relatórios sociais à Reinserção Social, os pedidos de cartas rogatórias às entidades estrangeiras, pedidos de informação às aplicações informáticas, pedidos de informação aos Órgãos de Polícia Criminal, a inquirição de testemunhas, a audição de vítimas, a recolha de autógrafos, o cumprimento de trânsitos em julgado das sentenças, as recolhas estatísticas, a atualização informática de tarefas, a feitura da conta final nos processos, a confirmação de pagamentos, entre tantas outras impossíveis de relatar neste espaço.

É todo um trabalho invisível aos olhos do cidadão, mas que é fundamental ao bom andamento da justiça, o que fazem com grande espírito de missão.

in Correio da Manhã – Correio da Justiça – 12abr2023