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É natural que oficiais de justiça “percam a paciência”, diz bastonária dos advogados – 24.sapo.pt

A bastonária dos advogados compreende que os funcionários judiciais “percam a paciência” à espera de promessas por cumprir e entende que seria “mais profícuo” um debate conjunto para solucionar as reivindicações do que discutir a legalidade da greve.
É natural que oficiais de justiça
TIAGO PETINGA/LUSA

Em entrevista à agência Lusa, Fernanda de Almeida Pinheiro, a bastonária da Ordem dos Advogados prestes a cumprir três meses no cargo, defendeu “a justeza” das reivindicações dos funcionários judiciais, em greve há mais de um mês, que já levou ao adiamento de milhares de diligências e a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, a afirmar que a paralisação “está a arrasar a Justiça”.

Levou também o Governo a questionar a legalidade da greve – que é apenas a algumas diligências e não uma paralisação total durante um período definido, o que leva a que os funcionários judiciais estejam no local de trabalho a cumprir o seu horário – tendo pedido um parecer ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República, que abria a porta a sanções disciplinares aos grevistas por incumprimento dos seus deveres funcionais.

Mas uma decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa entretanto conhecida contestou que pudessem ser aplicadas sanções remuneratórias, com cortes nos vencimentos, e marcação de faltas, defendendo que estaria em causa a violação de direitos fundamentais.

“Independentemente de andarmos aqui a saber se há ou não legalidade na greve, era bom que pensássemos se há ou não justeza das reivindicações das pessoas. E parece-me que há. E então era mais fácil, e parece-me a mim mais profícuo, nós trabalharmos numa solução, em vez de andarmos aqui a adiar um problema que daqui a pouco, desde 1999, já tem mais de 20 anos”, disse.

A bastonária referiu que o suplemento remuneratório de recuperação processual que os funcionários judiciais reivindicam desde 1999 já lhes tinha sido prometido e orçamentado em 2021 e 2022, no âmbito da revisão do seu estatuto profissional.

“Já estamos em 2023 e não temos nenhuma carreira nem nenhum Estatuto revisto. Portanto, é natural que as pessoas percam a paciência, porque com muito empenho das pessoas que estão agora, e reconheço isso, mas tem que haver também alguma sensibilidade para esta temática, porque as pessoas andam a reivindicar estas coisas há anos e anos. As promessas vão sendo feitas e vão sendo sempre adiadas”, criticou Fernanda de Almeida Pinheiro.

Sem querer responsabilizar a ministra da Justiça, por estar há pouco tempo em funções, mas responsabilizando o primeiro-ministro, há sete anos no cargo, incluindo nos anos em que a promessa do pagamento do suplemento foi feita, defendeu que o Governo tem que olhar para o problema “como um todo”, acrescentando que a Ordem dos Advogados se disponibilizou para um processo de conversações conjuntas com vários intervenientes do setor da Justiça, para tentar desbloquear esta questão e chegar a uma solução.

“Neste momento estamos todos a aguardar que nos digam se faz ou não faz sentido sentarmo-nos todos à mesa das negociações”, disse a bastonária.

Fernanda de Almeida Pinheiro reconheceu que a situação criada pela greve deixou a justiça e os tribunais numa situação caótica e o resultado da greve, do ponto de vista dos advogados, “é catastrófico”, para os próprios, pelo arrastar dos processos que atrasa o pagamento de honorários, e para clientes e testemunhas em tribunal, que muitas vezes se deslocam em vão.

A bastonária aponta ainda aos salários base oferecidos a quem quiser candidatar-se a uma das 200 vagas agora abertas para funcionários judiciais, questionando a adequação de um salário de 846 euros para profissionais “altamente qualificados”, muitas vezes deslocados e com despesas acrescidas.

“É evidente que ninguém consegue viver com este tipo de remuneração e tem que ser revista da parte do Estado”, disse.

in – 24.sapo.pt – É natural que oficiais de justiça “percam a paciência”, diz bastonária dos advogados – Atualidade – SAPO 24

Triste fado – Correio do Justiça – Correio da Manhã

Imprescindível devolver a dignidade a uma profissão fundamental.

Atualmente existem Oficiais de Justiça a exercer outras profissões de forma a poder completar os seus parcos rendimentos. Pois como é facilmente constatável, um trabalhador da justiça em início de carreira tem o vencimento ilíquido de 854,30€.

Como forma complementar, a atividade exercida é qualquer uma que possa acrescentar os tais euros em falta. Temos alguns destes profissionais a exercer a atividade de entregador de comida ao domicílio em empresas do ramo, bem conhecidas de todos. Agora imagine-se a seguinte situação: durante a sua jornada de trabalho no Tribunal ou nos Serviços do Ministério Público o Oficial de Justiça tem de exercer a sua autoridade enquanto adjuvante de um órgão de soberania, no caso dos Serviços do Ministério Público procede a inquirições de testemunhas e por vezes de interrogatórios de arguidos não detidos entre outras diligências de investigação.

À noite, no exercício da sua atividade de entregador de comida ao domicílio, toca a campainha de um cliente. E quem é o cliente? O mesmo arguido que esteve a interrogar durante esse dia! Apenas o Governo não quer entender que é imprescindível devolver a dignidade de outrora a uma profissão fundamental ao exercício da aplicação da justiça.

Meter água – Correio da Justiça – Correio da Manhã – 29mar2023

No país dos navios em apuros há quem prefira o discurso do “não se passa nada” e continuar a assobiar para o lado, ou ainda quem prefira o discurso da opressão, do medo e da coação. Praticamente todos os serviços públicos, devido à falta de investimento de anos a fio, está em sérias dificuldades.

Os trabalhadores desesperam para poderem fazer o seu trabalho em condições dignas e eficazes. As greves são o pulsar do descontentamento generalizado dos trabalhadores da administração pública. O barco da Justiça há muito que mete água, mas com o tempo, aquilo que eram pequenos furos no casco, foram ganhando uma dimensão impossível de gerir e, atualmente, já são rombos gigantescos levando à impossibilidade de uma navegação tranquila, sem uma paragem obrigatória para a sua reparação. É sabido que em mares revoltos, a robustez das embarcações é essencial.

Por mais coagidos que sejam os marinheiros para continuarem a navegar, por mais vontade que estes demonstrem com a força do seu trabalho e empenho, nada poderá evitar o fim anunciado. Empatar o jogo nestas circunstâncias não resulta. O melhor será retirar a embarcação da água e consertá-la de vez.