António Marçal Presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais revela que oficiais não ganham horas extra mesmo quando trabalham até à meia-noite
COM JULGAMENTOS adiados e inúmeras diligências paradas, os tribunais têm funcionado, desde dia 15 de fevereiro, em serviços mínimos, devido à greve dos funcionários judiciais. Firme nas reivindicações, António Marçal, presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, promete prolongar a paralisação caso não haja acordos com o Governo, mas mantém a esperança na construção de entendimentos.
Quais são as reivindicações do sindicato?
Os nossos cidadãos têm de entender que o funcionamento da Justiça não se basta com juízes, com procuradores e com advogados. Há umas pessoas que parecem que são invisíveis, mas que são o oxigénio e o sangue dos tribunais. Exigimos uma revisão do estatuto que tarda, que devia ter sido feito aquando da revisão dos estatutos de juízes e procuradores, aquando da reorganização do mapa judiciário. Escava assumido pelo poder de então. Era necessário uma reorganização funcional para que se otimizasse o funcionamento da Justiça e isso não aconteceu. Temos uma carreira que está congelada há mais de 20 anos e muitos trabalhadores ainda estão na base da pirâmide. Estão a desempenhar funções de uma categoria acima, mas não ganhando por essa categoria. Continuam a ganhar cerca de mil euros.
Tal como os professores, há oficiais que são obrigados a trabalhar longe de casa?
Um grande número de funcionários, que até são do Norte ou do Centro do país, estão deslocalizados. Por exemplo, nas comarcas do Lisboo ou de Faro. Depois de pagarem o quarto ou um apartamento, pouco lhes sobra para uma vida com alguma dignidade. Um bocadinho à semelhança dos professores ou dos polícias. Isto é uma questão que é transversal em parte da administração pública. Mas no nosso caso piora porque, efecivamence, nós não tivemos nenhum as promoções. E temos tido um aumento da idade da aposentação de cerca de 12 anos.
Iam para a reforma antes da idade prevista?
Para os pessoas entenderem que isto não em nenhum privilégio, os oficiais de Justiça não ganham um único cêntimo para além da hora. Isto é, a partir das 17.30 horas, quando o tribunal fecha, os pessoas continuam a trabalhar muitas vezes mais sete ou oito horas, e não ganham nada. Há um dever de permanência, um dever de assiduidade, e há também um sentido de responsabilidade de todos os oficiais de Justiça, porque estão em causa diretos, liberdades e garantias dos nossos concidadãos. Durante muitos anos, esta situação tinha como contrapartida um acerto de contas. Em vez de ser feito no final do mês,
era feito ao fim de 36 anos de trabalho. Então, o Ministério da Justiça entendia que. por essa disponibilidade, por esse trabalho a mais, nós tínhamos uma redução do tempo de trabalho necessário à aposentação. Era um crédito, acertado no final da vida profissional. Isso acabou, mas não houve compensação.
O pré-aviso de greve vai até 15 de março, mas pode prolongar-se?
Eu queria não estarem greve no dia 15 de março. Quando nós dizemos que estamos disponíveis para um processo de negociação, estamos de boa-fé. Queremos ser parte da solução. Mas têm de existir medidas concretas. Fomos chamados de urgência ao Ministério e o Secretário de Estado disse-nos que iria desencadear um conjunto de mecanismos. Dissemos ao senhor Secretário de Estado que podia contar connosco, mas teria de haver medidas concretas. Ele não pode apenas anunciar que vai descongelar as promoções. Isso não. Queremos garantias de que vai ser mesmo assim. •
in Jornal de Noticiais – 15.fev.2023