1) Reforma do funcionamento do sistema de Justiça no âmbito do programa de assistência financeira negociado com a União Europeia;
2) Presidente da República reúne com responsáveis da justiça, mas ignora os funcionários judiciais;
Na sequência dos compromissos assumidos pelo Estado Português e cujas linhas mestras constam do memorando assinado com a «troika», têm vindo a ser conhecidos algumas das propostas e alterações a estudar ou a concretizar no curto ou médio prazo, conforme se depreende dos despachos n.º 7818 e 7819/2011 (DR 2ª Série, n.º 104 de 30 de Maio) e do projecto de DL aprovado pelo Conselho de Ministro em reunião de 12 de Maio de 2011.
Em relação à pretendida instalação das duas novas comarcas este Sindicato, na resposta que apresentámos no Ministério aquando da primeira versão desta proposta tecemos algumas considerações críticas e reiteramos (como já havíamos feito aquando da instalação das três primeiras comarcas) o nosso protesto e desagrado pelo facto de aquele documento não ser acompanhado do projecto de portaria com o quadro de funcionários dos novos tribunais e respectivas regras de afectação à nova realidade organizacional. Até hoje nada nos foi dito sobre tal matéria o que naturalmente nos preocupa.
Na reunião havida recentemente com o Ministro da Justiça reforçamos aquele pedido e manifestamos as nossas reservas em relação à proposta de instalação, até ao final de 2012, em todo o território nacional do Mapa Judiciário. Consideramos que os novos modelos de gestão, em vigor nas actuais comarcas-piloto, são experiências positivas, embora podendo ser melhoradas, e por isso a sua aplicação aos restantes tribunais é justificada, todavia continuamos a manter justificadas reservas quanto à nova matriz territorial e suas pretensas vantagens e sobretudo quanto aos meios necessários para uma resposta eficaz do sistema judicial!
E, claro que se impõe, neste contexto, a necessária alteração do EFJ.
E, em relação ao EFJ, demonstramos abertura para agilizar a gestão de recursos, desde logo com a criação de uma Bolsa de Funcionários afecta á presidência da comarca. Bem como a prossecução de uma justiça de proximidade que poderia ser obtida pela «deslocação do trabalho» em vez da deslocação do trabalhador, o qual se pode fazer desde logo pela utilização adequada das novas ferramentas informáticas e no objectivo do processo desmaterializado.
Mas mais uma vez referimos que é incontornável a necessidade de um procedimento urgente de admissão de funcionários (mesmo que se aplicasse o rácio de 1 entrada para 5 saídas), bem como uma aposta formativa e de preenchimento concreto e real dos lugares de chefia com oficiais de justiça devidamente capacitados e habilitados.
O Senhor Presidente da República promoveu um almoço de trabalho(?!) com alguns dos, citamos, «responsáveis da área da Justiça: Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Presidente do Supremo Tribunal Administrativo, Procurador-Geral da República, Bastonário da Ordem dos Advogados, Presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses e Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público.
Com este encontro, o Presidente da República pretendeu contribuir para a criação de um clima de apaziguamento e de diálogo e cooperação construtivos entre os diversos agentes judiciais e entre estes e o poder político. O Presidente da República apelou à congregação de vontades e à união de esforços para a concretização de uma reforma profunda do funcionamento do sistema de Justiça e para a realização dos compromissos, na área do sistema judicial, assumidos por Portugal no âmbito do programa de assistência financeira negociado com a União Europeia.”
Quando na passada semana tivemos conhecimento desta iniciativa, endereçamos uma carta ao Chefe da Casa Civil de Sua Excelência o Presidente da República dando nota da nossa surpresa e natural descontentamento pelo facto dos oficiais de justiça não serem considerados para a referida reunião, atento o seu preponderante e insubstituível papel no funcionamento do sistema de justiça, atitude que denota certamente um desconhecimento gritante da realidade do trabalho nas secretarias judiciais e nos serviços do Ministério Público. Ainda não obtivemos resposta!
Assim, podemos concluir por uma das duas seguintes hipóteses:
a) A Presidência da República manifesta uma desconsideração e menorização pela classe dos oficiais de justiça, de todo injusta e ingrata, por quem sempre tem demonstrado um empenho e dedicação no seu desempenho profissional nos tribunais. Além de que, esta classe profissional conhece muito bem os problemas e constrangimentos que afectam o funcionamento do sistema de justiça e temos propostas e sugestões concretas para muitas das situações. Por exemplo, se nos tivessem “ouvido” e considerado as nossas críticas em devido tempo, hoje não tínhamos a vergonha da Acção Executiva que todos sabemos! Porque embora alguns venham agora fazer muitas críticas, a verdade é que na altura fomos os únicos que nos opusemos a esta reforma!
b) Segundo a nota da Presidência da República, este encontro pretendia contribuir para o apaziguamento e diálogo e cooperação construtivos entre os diversos agentes judiciais e também à congregação de vontades e à união de esforços para a concretização de uma reforma profunda do funcionamento do sistema de Justiça.
Ora, como não estamos em conflito com nenhum dos restantes operadores judiciários, mantemos um são e construtivo diálogo com todos – juízes, procuradores e advogados – e, há muito tempo que vimos fazendo um enorme esforço para evitar que a justiça não caia no caos para onde todos parecem que a querem empurrar, então podemos concluir que o Senhor Presidente da República, achou que eventuais “puxões de orelhas” não são devidos aos oficiais de justiça!
Assim, e afinal, talvez o Senhor Presidente da República tenha razão, porque o motivo da reunião foi afinal o segundo e, por isso, a nossa presença era despicienda!